Queimadas e incêndio

Publicado por Ana Lacerda em

Mato Grosso figurou em jornais de âmbito nacional recentemente, com notícias de um incêndio que já dura alguns meses e consterna toda a população com os efeitos devastadores no Pantanal, na região de Chapada dos Guimarães e até mesmo na capital, que se encontra sufocada em meio à fumaça resultante disso.

Os impactos do incêndio são diversos, além da morte de animais, das áreas de proteção ambiental que estão em cinzas, da destruição de propriedades rurais, há ainda que se enfrentar os problemas respiratórios que pioram consideravelmente com a situação confrontada, especialmente em um momento como o atual, em que a falta de ar pode significar diagnósticos relacionados com a pandemia.

Se os moradores da zona urbana sofrem com o ar carregado que engole a região, aqueles que vivem nas áreas rurais precisam encarar o fogo de perto e, não raras vezes, se juntam aos bombeiros a fim de tentar controlar os estragos advindos dessa triste realidade; isso, quando não precisam dar conta sozinhos do problema, lançando mão de recursos particulares, tendo em vista que o efetivo dos nobres bombeiros não é compatível com as dimensões do fogo que assola os mato-grossenses, impossibilitando o atendimento de todas as ocorrências.

Diante desse cenário, é preciso trazer à tona um pouco mais de informação, porque, não se fugiu à regra de tentar, mais uma vez, manchar a imagem do agro e culpabilizar pelo incêndio, sobretudo, os criadores de gado. No episódio em comento, ONGs não falharam em disseminar por aí que o Pantanal não tarda a se transformar em uma nova Amazônia em decorrência da ação dos moradores da própria localidade. O que significa dizer que uma região cuja taxa de preservação ambiental é uma das maiores do planeta se veria destruída por quem mais tem interesse em cuidar dela. Não custa lembrar, mesmo que de relance, que muitas dessas instituições se sustentam e justificam sua existência e consequente financiamento pautadas pelos desastres ambientais.

Assim, é fundamental perguntar quem ganha mais com a destruição de determinadas áreas: quem vive e trabalha naquele local, ou quem tem a subsistência bancada pelos problemas que ali ocorrerem?

As terras pantaneiras têm a pecuária como principal atividade econômica, desde a época da colonização, após a exploração do ouro na Baixada Cuiabana. Junto com a utilização das propriedades para a criação, pessoas se instalaram e constituíram família. Obviamente, não interessa a quem mora lá que sua casa pegue fogo. Logo a maldosa acusação não faz sentido algum.

Ainda sobre o fogo nessa região é preciso levantar alguns elementos importantes como a existência de plantas que, em tempo de seca, entram em autocombustão, como a canela de ema, no território de Chapada dos Guimarães e algumas gramíneas do Pantanal.

O gado criado no Pantanal traz benefícios à região nesse viés, considerando que se alimenta de matéria que se tornaria combustível para futuros incêndios. Nesse sentido afirmou um veterinário da Associação dos Criadores de Mato Groso – ACRIMAT:  “o boi é o maior e melhor bombeiro que há. Ele que limpa os pastos, ano após ano, não deixando nada de excesso neles. Pode-se dizer que é o Pantanal que mais precisa do boi e não o contrário”.

“ É imprescindível, além de apagar o incêndio atual, promover discussões embasadas sobre o assunto. Já que esse é um problema que se repete ano após ano”

Além disso, existe uma prática de manejo local, permitida por lei, que é a queima controlada.  É importante trazer esse argumento, uma vez que ele é frequente ponto de confusão quando se trata do fogo no Brasil.

É uma prática comum no pastoreio do gado, fazer roçagem do capim que não foi comido pelos animais e algumas queimadas controladas dessa massa vegetal no fim da temporada das chuvas, com o justo objetivo de evitar que esse conteúdo sirva de combustível no período de estiagem seguinte. É o que se denomina de fogo frio. Um processo deliberado e prudente; totalmente diverso e, como relatado, desejável para o combate a incêndios.

Ou seja, sublinhem-se as diferenças: queimas controladas são permitidas em determinadas épocas do ano e com atendimento a alguns requisitos legais; já os incêndios causam prejuízos a todos do local, especialmente para quem precisa da terra para viver.

Lembrando que neste ano, por força do Decreto Estadual nº 535 de 26/06/2020, está proibido o uso de fogo para limpeza e manejo de áreas, no período compreendido entre 1º de julho e 30 de setembro de 2020.

 É imprescindível, além de apagar o incêndio atual, promover discussões embasadas sobre o assunto. Já que esse é um problema que se repete ano após ano. As políticas públicas e legislação ambiental e agrícola precisam se posicionar e entregar resultados que são de sua respectiva obrigação. Não se tem dúvida alguma de que esse é o entusiasmo de cada cidadão pantaneiro, chapadense, mato-grossense e brasileiro.

Fonte: rdnews.com.br

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